NALDOVELHO

ESPAÇO DEDICADO A POESIA

sexta-feira, setembro 08, 2006

VISCERAL E PROFANA



NALDOVELHO

Trago a alma marcada
por trilhas, espinhos, tocaias,
madrugadas solitárias, silêncio,
lembranças de outros tempos
sangue, suor e aguardente,
e em minhas costas, feridas,
o chicote inclemente do vento.
E a poeira... A poeira da estrada,
entranhada pra sempre em meus poros.

Trago em meus olhos a dor
de um passado no exílio:
solidão, culpa, vergonha,
por feitiços conjurados, faz tempo,
e na cintura repousa uma adaga,
até hoje suja de sangue,
por batalhas travadas nas sombras,
sem sequer conhecer o inimigo.
Escolhas feitas pelo caminho,
algumas delas foram erradas.

Trago as mãos calejadas
pela colheita da uva e do trigo,
pelo talho nas pedras que eu trago,
esculpir, lapidar, revelar.
E mais sangue, suor e aguardente,
poemas, cantigas, imagens,
nostalgia, saudades, miragens,
inquietudes de quem procura
desfazer pela vida o mal feito,
construir um novo momento.

Trago na pele asperezas,
na fala delicadezas,
nas veias muita aguardente,
sangue viscoso, fumaça,
vestígios de ervas daninhas
semeadas impunemente, ou quase!
E o corpo hoje reclama,
mas continua teimosamente,
na dança do tempo que implora
por música, refrigério da alma,
por poesia visceral e profana.