NALDOVELHO

ESPAÇO DEDICADO A POESIA

terça-feira, agosto 29, 2006

UMA TELA NUM QUADRO



NALDOVELHO

Imagens suaves ao traçar um esboço, na tela o teu sorriso vai tomando forma e gosto. Recriar o teu corpo em todos os contornos, não posso esquecer teu olhar, é o meu jeito de dizer o quanto eu te amo, te quero e preciso.

Diferentes matizes e ainda um pálido esforço. Retratar-te é o meu vício, não consigo parar! Eu olho para o espelho e vejo o meu rosto, já não tenho vinte anos, quantas marcas, quantos enganos...

Vou até a janela e lá fora é novembro. Imagino-te tão bela, miragem, oásis, e ao acreditar em magia, materializo-te em meu quarto. Na tela eu já percebo um carinho absurdo, uma espera inquietante e uma saudade singela como plano de fundo.

O cigarro entre os dedos, só falta um conhaque. Conhaque eu não posso, fumar também não, só não consigo parar! Talvez se deste quadro tu saltasses da tela e me desse abrigo, fizesse-me querido e de fundamental existência, talvez então o tempo parasse de passar e arrependido pelos estragos deixasse voltar ao presente o nosso passado... E quem sabe uma nova chance?

Tua imagem na tela já se faz quase pronta, alguns poucos detalhes, delicados momentos, pouca coisa nos falta para que concretizado possamos ficar nos olhando: eu aqui, só, neste quarto, preso a este nostálgico quadro, junto com minhas lembranças, tuas lembranças, minha espera e a esperança de reviver este amor.