NALDOVELHO

ESPAÇO DEDICADO A POESIA

quinta-feira, setembro 28, 2006

O VERBO CERTO



NALDOVELHO

Cada coisa ocupa um determinado lugar no espaço. Só que o tempo e o movimento discordam, e o que hoje está aqui, amanhã certamente num outro lugar, depois, nem sei por onde estará.

Até o amor, sentimento danado de espaçoso, que como diz o poeta, é infinito, mas só enquanto dure, mingua atrofiado pelo tempo, é removido para um lugar seguro, tipo pequena gaveta no departamento das lembranças, e fica por lá, feito cicatriz quê, na mudança de tempo, arde, incomoda, até que venha um outro amor e anestesie a danada da saudade e cure no coração do poeta a dor da distância e da perda de quem tantas marcas deixou. E ainda que caiba um poema, esse não mais incomodará.

Até a vida, algumas plenas, tão significativas, outras efêmeras, muitas desapercebidas e aparentemente sem valor. Como se pudesse haver vida que não fosse preciosa! Pois é: o tempo, delas também se encarregará! Mesmo a vida do poeta: não é certa a perenidade de sua obra, ou mesmo de suas dores, nada permanecerá.

Gosto de pensar na infinitude. Costumo dizer que a existência nos preservará; assunto para espiritualistas, ou coisa assim. Outras vidas, novas vivências... Mas, certamente em algum outro lugar, abençoados pelo esquecimento, terreno fértil para novas sementes, novas culturas, outras histórias... Ainda assim, nada permanecerá!

Nada fica! O tempo, que a tudo transforma, tem a sabedoria da Criação, e o Verbo certo é recomeçar.

Bom! Chega de filosofar e vamos ao poema:

O tempo que eu tenho transpira urgências,
movimento inquieto de versos profanos,
confissões tardias, mudanças de planos...
O amor que eu tenho respira carências,
madrugadas de insônia, solidão e abandono.
Melhor debruçar nas teclas de um piano,
quem sabe uma cantiga possa te comover?
Ainda que não creias, ainda te amo!