NALDOVELHO

ESPAÇO DEDICADO A POESIA

domingo, setembro 17, 2006

NO DIA QUE EU FOR EMBORA



NALDOVELHO

No dia que eu for embora não quero ver em seus olhos a dor que hoje eu pressinto entranhada em você.

No dia que eu for embora quero luz de lua exibida, cheia de graça e enxerida, música ardida e profana, violões impunemente na praça e poetas, muitos poetas, a dizer do amor que eu tenho e do qual nunca abri mão.

No dia que eu for embora quero primavera de versos e que sejam viscerais e confessos, pois só assim terá valido a pena ter desafiado a peçonha dessa inquietude urgente, terrível e armada serpente, da danada da inspiração!

No dia que eu for embora quero madrugada molhada, uma saidera sem pressa, um brinde ao sol que não tarda e as minhas malas repletas de muitas e necessárias sementes, para que eu possa cultivar nos distantes as coisas que por aqui aprendi.

No dia que eu for embora quero um sapato novo e macio, camisa e calça de linho, algum dinheiro no bolso e um beijo de despedida daquela que causou tantas feridas e que fez nascer o poeta que acredita no amor que existe dentro de nós.

E que sejam assim mantidos os laços, escolhas, promessas, pois o amanhã é coisa incerta e ainda que tudo isto nos doa, é preciso continuar com o caminho, mesmo que não saibamos, se um dia vamos conseguir chegar a algum lugar.