NALDOVELHO

ESPAÇO DEDICADO A POESIA

sábado, setembro 16, 2006

TATUAGENS



NALDOVELHO

Mais ou menos a um palmo e meio,
acima do umbigo, um beija-flor atrevido,
escondido entre os seios, espreita o perigo
e me prepara uma tocaia.
Beija-flor sabido escolheu bem o abrigo
e ali fica, tal qual tatuagem,
a desafiar-me a coragem de dar vazão ao desejo
de saciar minha sede no mel que eu prevejo
existir mais ao lado, em qualquer uma das fontes
que abusadamente eu almejo.

Mais ou menos a um palmo e pouco,
abaixo do umbigo, mais para o lado esquerdo,
reside um dragão, também tatuado,
sentinela desaforada, a me avisar do perigo.
Dragão destemido, guardião que protege,
nas bordas do abismo, a fonte das águas que eu colho,
quando parte de mim fica, totalmente,
abrigado durante o prazer de te ter.

Só lamento não ter percebido a tempo,
escondida, no canto dos lábios, insidiosa serpente.
Agora é tarde, inoculada a peçonha,
só me resta a embriaguez.
E nada mais há, que eu possa ou tente,
só me resta pedir clemência
para que não me mates de prazer.