NALDOVELHO

ESPAÇO DEDICADO A POESIA

segunda-feira, setembro 11, 2006

NOTURNO



NALDOVELHO

Foi sem o menor aviso! De repente a porta se abriu, não abruptamente, suave e lentamente. Ela invadiu-me o quarto com ares de quem sabia o que buscar e principalmente onde encontrar. Eu nada disse, também nem podia, as palavras soterradas diante daquela imagem tão bela e ao mesmo tempo tão estranha. Um forte pressentimento de que algo estaria por acontecer, algo que eu ainda não entendia, mas francamente, não tinha a menor vontade de evitar.

Perfume, discreto, delicioso e envolvente, tipo embriaguez disfarçada, e inclementemente desejada. Foi assim que aconteceu!

Algumas palavras, doces palavras, um olhar penetrante, e uma vez mais, eu nada conseguia dizer, nada me ocorria e o silêncio era naquele instante, a atitude mais sensata diante daquela atmosfera de mistério e prazer.

Percebi num relance que ela já se punha descalça a caminhar de um lado para o outro, como se estivesse me estudando, premeditando seus próximos passos. Fechou mal fechada a cortina, apagou as luzes, deixando apenas e tão somente ligado, um pequeno abajur de sedutora penumbra, que junto com a luz da lua que penetrava pela janela entreaberta, me permitiam a visão daquele momento, raro, precioso e sagrado.

Uma vez mais em silêncio, só me restou respirar profunda e pausadamente e continuar olhando, saboreando, me embriagando até não mais poder. Movimentos provocantes, num jogo de luz e sombra a enaltecer-lhe o corpo e uma música suave a brotar das paredes, do teto, do chão, de todo o quarto. Metais em surdina e um blues bem temperado, impiedoso e visceralmente mal intencionado.

Primeiro a alcinha de um vestido meio transparente, generosamente decotado, depois a outra, e meio assim como por querer ela se aproximou. Olhar ainda mais envolvente, o bico do seio esquerdo a se mostrar contundente a desafiar-me o silêncio, o outro seio, meio assim escondido, porém não menos ousado, a impedir a queda do vestido, que num ligeiro contorcer de ombros revelou toda a sua intenção.

Ela dançava em minha frente, minhas mãos trêmulas, busquei-lhe o corpo, cada vez mais excitado, já não mais existiam roupas, apenas uma pequena peça, última fronteira, última barreira. Meus pêlos arrepiados, ao perceber aqueles pêlos deliciosamente anunciados.

Minhas mãos incontidas, lentamente em suas coxas, em suas nádegas, em seu colo. Um conveniente lacinho, que se desfez com carinho e revelou por inteiro o caminho encantado e ansiosamente desejado. Beijei-lhe os lábios, ambos, com muito amor e cuidado, beijos longos e molhados.

Percorri com a língua, todas as dobras e lados, rocei com os dentes o bico do seio esquerdo, salientemente excitado. Já não mais reconhecia as minhas pernas, embaralhadas com aquelas outras pernas e me sentindo assim como uma muralha, que fora, ultrapassada... Derrotado eu tombei, entregue a tamanha sanha.

Mantive apenas os olhos entreabertos, não poderia perder tal cena, ver aquela mulher cavalgando, usando e abusando do meu corpo, até chegarmos ao orgasmo, um longo e demorado orgasmo e que deixou fortemente impregnado em meus poros, aquele cheiro e em minha pele a sensação do roçar de corpos, quentes, molhados, melados, coisa que eu nunca mais vou esquecer.

Ainda me lembro bem! Lá fora a noite ia alta, abri as cortinas e percebi que a lua havia se posto tal qual sentinela em frente a minha janela. Olhei de novo para a cama para saborear mais uma vez aquela imagem, esperando encontrá-la adormecida, abraçada em meus lençóis...

Para o meu sofrimento e espanto, lá não havia ninguém. Não havia mulher alguma em meu quarto. Eu estava só, irremediavelmente só! Eu e minha loucura, eu e o meu desejo de que aquele ser, misto de feitiço e miragem, voltasse e dissesse: te amo! Nada, não havia nada, nada aconteceu. Foi tudo um pesadelo, ou um sonho, sei lá!

Talvez o nome dela seja insônia, talvez solidão, quem sabe se chame saudade de alguém que eu nem sei se conheço ou se um dia vou conhecer.