NALDOVELHO

ESPAÇO DEDICADO A POESIA

segunda-feira, setembro 11, 2006

UM ANJO CAÍDO



NALDOVELHO

Um anjo caído invadiu minha casa,
abriu meus armários, mexeu nas gavetas
e espalhou pelo chão meus guardados.
Rasgou poemas e livros,
arranhou antigos discos de vinil
e jogou pela janela todos os meus CDs.
Não satisfeito: comeu da minha comida,
bebeu da minha bebida, vomitou no tapete,
e dormiu embriagado na poltrona da sala.

Ao amanhecer de ressaca e mal humorado,
avisou quê, de agora em diante seria assim,
pois tudo aquilo que eu pensei que me pertencia,
não era, realmente, meu por força de lei.
E se eu não me desse por satisfeito,
que arrumasse minhas malas
e fosse morar em outra casa,
melhor seria num outro país,
e que lá escrevesse novos poemas,
comprasse novos livros e CDs.

Na vizinhança corre o boato
que outras casas foram invadidas
e que a polícia, por serem anjos,
em nada poderia ajudar.
Que país é esse que querem que eu vá morar?
Eu mal sei falar português!