NALDOVELHO

ESPAÇO DEDICADO A POESIA

sábado, setembro 16, 2006

TRAGICOMÉDIA



NALDOVELHO

Estreitas passagens impedem a viagem,

retardam o regresso do pecador confesso,
que envolto em chamas busca e clama
pela misericórdia do perdão.
Promete reformas, se empenha e ora
e diz que agora vai ser diferente.

Enroscada num canto a serpente observa,

sibila satisfeita, sorri de prazer.
É muito o veneno que ainda existe em seu ser.

A platéia entretida assiste ao espetáculo,

querubins pervertidos, excitados pedem bis.
Estranho personagem que em insólita viagem,
rasteja pelo palco, comete bobagens,
embriaga-se do veneno, interpreta um selvagem
e iludido pelo aplauso se diz um aprendiz.

Na coxia, excitado, um arcanjo safado ri do infeliz.

São muitas as teias, são muitos os dramas,

coadjuvantes reclamam melhor papel nessa trama
e revoltosos proclamam o fim do espetáculo.
A platéia silencia, não entende o enredo,
não percebe que a morte é a grande atriz.

E o nosso personagem sai às pressas do teatro,

vai a busca de um outro palco onde possa ser feliz.