COISAS GUARDADAS

NALDOVELHO
Dentro do meu armário,
no fundo de uma gaveta,
pedaços do meu passado,
tiras, retalhos, guardados,
tudo devidamente catalogado.
Guardo o quintal da vizinha
com amoreira e tudo,
e uma mangueira frondosa,
manga carnuda e gostosa.
Guardo um gato safado,
o nome dele é Veludo,
e um cachorro vira-latas,
já bem velhinho e surdo.
Guardo um pato maluco quê,
de quando em vez,
anda todo de lado,
come chiclete e bola de gude.
Guardo uma unha encravada
que depois de um racha de rua
ficou bastante inflamada
e deu um trabalho danado
pro Seu Luiz da farmácia
conseguir arrancar.
Deus do céu, como doeu!
Guardo o beijo roubado
da filha de uma outra vizinha
e as coxas quentinhas
de uma priminha assanhada.
Guardo o bilhete amassado
escrito por uma ex-namorada
que marcou comigo e coitada,
ficou constipada e não compareceu.
Guardo o pátio do Liceu,
onde os primeiros poemas,
na realidade rabiscos,
loucuras explícitas
que aos quinze anos ousei.
Guardo as madrugadas impunes,
de andar livre e despreocupado
e a turma da esquina
com tudo que aprontávamos.
Guardo o primeiro maço de cigarros,
marca Mistura Fina,
e um belo de um catiripapo
por estar fumar escondido,
foi o Tio Carlinhos quem deu!
Guardo o primeiro porre,
vinho suave e conhaque,
junto com o primeiro violão,
ainda com cordas, mas desafinado.
Guardo um monte de sentimentos,
todos muito, bem enraizados
que o tempo não dissolveu.
Guardo as incertezas da vida
e um tempo em que eu nada sabia,
mas tinha todas as respostas,
ou pensava que tinha!
e a constatação
de que ainda hoje nada sei.
E guardo principalmente
e por amor a minha vida,
a criança travessa escondida
no fundo do meu EU.
1 Comments:
adorei essa poesia, me identifiquei nela, tb tenho tantas coisas, tantos sentimentos guardados! beijos amigo NALDO
sua amiga DIANA-strella matutina
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