VERSOS DESGOVERNADOS

NALDOVELHO
Não quero o poema aprisionado
em rimas óbvias e evidentes,
em métricas fieis carcereiras,
a impingir-me tantas besteiras,
pois enclausurados os versos,
já não me sinto um poeta
e confesso: calo-me diante da opressão.
Não quero estar manietado a regras,
que ditem caminhos ou fórmulas,
pois no poeta tudo é incerto.
Paixão que se contém oprimida
explode em constrangimentos,
deixa um vazio por dentro
e cala a inspiração.
Prefiro os contrastes da vida
em versos desgovernados,
que exponham no corpo as feridas
dos desencontros, das horas perdidas,
da nostalgia de um entardecer solitário,
ou de uma madrugada plena de insônia,
dissonância que brota tamanha
dos descompassos do meu coração.
Prefiro versos de chuva,
ou de um pistom demenciado em surdina,
de caminhadas solitárias, sem pressa,
por trilhas em desalinho,
pois em algum lugar desta estrada
eu sei, vai ter dor de partida,
vão brotar versos urgentes,
por sentimentos que se mostrem ardidos,
pois insólita é esta nossa
viagem na poesia que transcende o poema,
em versos que se mostrem dispostos
a seguir caminhos opostos
e de falares bem controversos.
Pois nada que eu faça vale a pena,
sem o atritar desmedido
da busca pela compreensão.
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