NALDOVELHO

ESPAÇO DEDICADO A POESIA

quarta-feira, novembro 22, 2006

VERSOS PERPLEXOS



NALDOVELHO

Palavras raras, espremidas, descontentes,
vibram nervosas, reticentes...
A mesma mão que semeia o trigo,
contamina os rios e seus afluentes.
A mesma mão que acarinha o filho,
extermina as sementes da terra que chora.
A mesma mão que escreve poemas,
escava a trincheira que o protege agora.
Palavras tortas, expostas, contundentes.
entoam cânticos de guerra evidente.
A mesma mão que cura as feridas
empunha a espada que sangra a vida.
Versos perplexos, reflexivos, confessos,
desentranham das vísceras o poema que implora.
A mesma mão que abre o caminho,
deixa neles rastros de sangue e desatino.
O que foi feito da cantiga de amor que outrora
trazia tanto encantamento na voz de um trovador?
O que foi feito do sorriso criança
que alimentava os sonhos do pensador?
O que foi feito do poeta e de suas juras de amor?
Será que se calou a poesia pelo jugo do imperador?
Ou será que é sina do homem crescer através da dor?