NALDOVELHO

ESPAÇO DEDICADO A POESIA

terça-feira, novembro 21, 2006

A MULHER QUE EU NÃO MEREÇO



NALDOVELHO

Como ter a pretensão de ser a metade de alguém que se mostra assim tão inteira, absolutamente plena? Pois, ao mesmo tempo, que tu te apresentas tal qual brisa suave, tipo fresca aragem, surges também tempestade a modificar a paisagem, só para desentranhar de mim boas sementes, coisas preciosas, segredos, presentes. Se de repente eu me quedo em silêncio, tipo atormentada calmaria, surges então pé de vento a me levar noite adentro através de madrugadas molhadas e a me deixar beber em teu colo todo o orvalho que a noite foi capaz de trazer, só para matar minha sede e me alimentar de prazer.

Como ter a pretensão de ser a metade de um foco de luz tão intenso que ilumina e cura as feridas, e que descortina novas sendas, caminhos que eu nunca fui capaz de perceber? Se és chama branda e suave que hoje me aquece do frio, se és a graça que eu preciso e confio para restaurar no poeta a alegria de viver, como eu poderia pretender?

Não... Não há como ser a tua metade, no máximo uma fração menor anexada ao teu ser. Seria então apenas um amante, que fosse, porém, sem nós, sem algemas, para poder descobrir em ti a ternura, para poder enfim chorar sem vergonhas, não pela dor ou desencantos tamanhos, mas por pura sensibilidade à beleza que eu sei, um dia eu vou te merecer.

E aí verias, num meu sorriso a verdade de um homem liberto e harmonizado, que por opção, a ti aprisionado, pois bendita a mulher que me atravessou o caminho, só para ensinar umas coisinhas, essenciais para que eu possa crescer.