NALDOVELHO

ESPAÇO DEDICADO A POESIA

sábado, novembro 18, 2006

O NOSSO ACESSO SE FAZ ENTRE OS AIS



NALDOVELHO

Pelas escadarias, umbrais, catedrais,
o nosso acesso se faz entre os ais.
Um rito antigo, estranho, e aflito,
permanece aceso nas crenças que temos,
por vias sacras, infinitas, terrenas,
acidentadas escolhas, tortuosas, tão plenas.

Velas acesas iluminam, contritas,
os passos que damos, esfregas, conflitos,
vielas, ladeiras, passagens estreitas,
o lapidar incessante através do atrito.
E por todos os cantos a chama nos clama,
é a luz que nós temos que nos une e irmana.

Teu corpo ainda hoje sofre e padece,
por marcas, por chagas, expostas ao tempo,
por todas as dores que gritam urgentes,
por todos os erros que cremos latentes,
escolhas erradas, labirintos que erguemos,
pela falta em nós do amor que queremos.

Teu corpo ainda hoje sofre e padece,
apesar do pranto dos que oram e perecem,
a cruz que carregas é a esperança que cresce.
No muro um lamento banhado de sangue,
o ódio estampado nos olhos dos homens,
e um cheiro de pólvora toma conta do ar.

Teu corpo ainda hoje sofre e padece,
pela dor daqueles que não te conhecem,
pelos pedaços, estilhaços, encharcados de sangue,
pelas portas dos templos que permanecem fechadas,
por mais que eu tente, impedem-me o acesso,
só me resta orar pelos filhos de Deus.

A cruz que eu carrego fere-me os ombros.
Pesada é a dor que explode profana
e os templos erguidos mantém-se ungidos,
as portas trancadas a impedir-nos o abrigo
e as lágrimas rolando na face de Deus.
É o Pai que implora pela existência dos seus!