NALDOVELHO

ESPAÇO DEDICADO A POESIA

terça-feira, outubro 24, 2006

POEMA DE AMOR



NALDOVELHO

A campainha da porta, não toca!
A fechadura emperrada, enferrujada.
Um vaso de vidro, flores murchas num canto.
O rádio ligado não sintoniza nada!
A vidraça embaçada, chove aqui dentro.
Lá fora a cidade agoniza e chora.
Os carros que passam atropelam as horas.
O sinal está fechado já faz um bom tempo
e as pessoas assustadas, apressadas, nem olham,
tropeçam e caem, levantam e fogem.
Na parede do meu quarto um quadro sombrio:
paisagem de outono, folhas caídas, abandono.
O papel sobre a mesa, o cigarro entre os dedos,
a ardência nos olhos, faz tempo eu não bebo!
Faz tempo eu não choro, não sonho, não oro.
Na gaveta da cômoda um maço de cartas,
escritas, aflitas, gritos de amor.
Nunca foram postadas, não sei teu endereço!
Amanhece lá fora, aqui dentro o silêncio.
Já não chove aqui dentro, agora chove lá fora.
Lá no fundo do meu umbigo: esforço, esboço,
tentativas fracassadas de um poema de amor.