NALDOVELHO

ESPAÇO DEDICADO A POESIA

domingo, dezembro 17, 2006

CRIME PREMEDITADO



NALDOVELHO

Crime premeditado
da virtude em busca do pecado,
da inocência a desafiar a peçonha
ao masturbar-se solitário na cama
por fixação na vizinha do lado.
Pobre de mim!
E assim foi o primeiro poema.

Crime premeditado
do menino que dobrou a esquina,
andou por ruas transversas,
becos, ruelas, travessas,
misturou-se aos vagabundos nas praças,
amou prostitutas, tão gastas,
e ainda assim escreveu mais poemas.

Crime premeditado
do jovem que acreditou em utopias,
escreveu canções de protesto,
reencontrou a vizinha peçonha,
mãe de três filhos e vergonhas.
por ter feito escolhas erradas.
Às vezes a vida é assim!

Crime premeditado
do homem que se feriu em espinhos,
que destruiu canteiros de rosas,
que sofreu por amor e ainda ama,
mas que por deixar a poesia de lado,
trilhou caminhos profanos,
quase enlouqueceu.

Crime premeditado
de quem se afogou em aguardente,
escalou cordilheiras estranhas,
rolou ribanceira abaixo,
chorou lágrimas de um tolo,
redescobriu em si mesmo o poema,
e enlouqueceu.

Crime premeditado
de quem assumiu a condição de poeta
e que sendo por natureza um tolo,
fez da palavra um consolo,
pois a sentença final: é culpado!
Condenado a viver na inquietude,
e a morrer de mal de amor.