NALDOVELHO

ESPAÇO DEDICADO A POESIA

sábado, novembro 25, 2006

QUANDO EU FOR DONO DO MEU TEMPO



NALDOVELHO

Quando eu for dono do meu tempo vou acordar todos os dias mais tarde e sempre na medida da preguiça por gosto, que é pra não me causar desconforto. Vou tomar café da manhã sem pressa, ler as notícias, ficar sempre bem informado das coisas que por aí acontecem e que por viver apressado, acabo tendo que ignorar.

Quando eu for dono do meu tempo vou caminhar pelos jardins da minha cidade, apreciar os pássaros em festa, as flores em animada conversa a exalar impunemente essências. E nas areias da praia que eu amo, organizar melhor o meu dia, sob as bênçãos das águas do mar.

Quando eu for dono do meu tempo vou escrever muitos poemas, se a inspiração ajudar, um romance, se não der, servem contos, histórias de uma vida de quem viveu aprisionada às horas, mas que nunca deixou de sonhar. Vou pintar muitos quadros, de todas as cores, em monocromáticos matizes, compor melodias, cantigas, choros, valsas e até um tango, bem visceral e profano, tipo Astor Piazzolla, nostálgico, bruxo e insano.

Quando eu for dono do meu tempo vou dedicar-me mais a quem amo e trazer um muito de ternura, a quem por tantos e tantos anos, ao superar perdas e danos, sempre esteve ao meu lado e me presenteou com um lar. Vou cuidar melhor da minha casa, vou abraçar e cultivar novos amigos e vou ter sempre uma palavra de carinho para com aqueles que eu consegui preservar.

Quando eu for dono do meu tempo vou querer anoitecer ao relento, tecendo teias ao vento com toda a poesia que eu tenho e finalmente realizar meu intento da lua poder namorar. Vou dormir todos os dias bem tarde, sem me incomodar com a nostalgia que arde, ou com a inquietude constante , pois foi ela que manteve viva a chama que brilha nos olhos do louco que ainda hoje existe lá dentro de mim.

Quando eu for dono do meu tempo, e espero que ainda haja tempo, vou fazer por merecer a ventura que a vida resolveu me ofertar.