NALDOVELHO

ESPAÇO DEDICADO A POESIA

quinta-feira, novembro 23, 2006

CIRCENSE



NALDOVELHO

A corda bamba esticada,
uma sobrinha colorida,
me mantém equilibrado.
O elefante empacado
não anda nem desanda.
O tigre de bengala,
a leoa desdentada,
o trapezista que se lança
num vôo cego e arrojado.


Uma pirueta, um salto mortal,
o palhaço faz careta
divertindo a garotada.
A mulher que engole fogo,
pipoca, algodão doce.
A bailarina se contorce
ao som de um minueto
e o amor que eu sentia
não era muito, se acabou.


Já não sou uma criança
e a danada da esperança
foi embora com o circo.
Outros rumos, outra estrada,
e eu aqui sem paradeiro
a escutar o som de uma risada.


Um minuto de silêncio,
aqui jaz Seu Serafim,
poeta e domador,
abandonou vida de artista
por conta de um grande amor.
O nome dela: Eleonor,
mulata salseira, atrevida,
logo saltou de banda,
largou o pobre na lona,
arriado num beco escuro,
com acara cheia de cachaça
e uma dor que não tem fim.


Saudades dos saltimbancos
e da leoa banguela,
o nome dela: Florisbela.
Adorava escutar meus versos
e ronronava pedindo bis.


Já não tem mais brincadeira
e o espetáculo terminou,
quem quiser que conte outra,
pois o tempo desta prosa
escoou pelos meus dedos,
feito água fria e clara
de um pote de esperanças
que desastrado derramei.