NALDOVELHO

ESPAÇO DEDICADO A POESIA

quinta-feira, novembro 23, 2006

ACORDA



NALDOVELHO

Acorda a corda
do violão que discorda

e se nega a ficar afinada,
harmonizada às outras cordas
e por tanta e insistente teimosia,
impede que eu faça a melodia
que a poesia precisa e pretende
para enaltecer em mim o amor.

Acorda o verso
que sonâmbulo se fez desconexo,

embaralhado dentro do tema,
a gargalhar na hora do pranto
e a ironizar com o desencanto,
pois não foi tão bom nem tanto,
melhor então que acabou!

Acorda a lágrima
que sonolenta entalou na garganta

sob o pretexto de matar-me a sede,
lágrima salgada e desencontrada,
só aumenta a secura que estou
e não revela o dor que ficou.

Acorda o sonho
que por instantes virou pesadelo,

de sombrias e insanas imagens,
sentimento transformado em miragem,
coisa sem sentido, bobagem,
histórias de um poeta bem tolo,
obsedado pelo desamor.


Acorda os olhos
e veja o que a vida ensina,

expulsa do quarto a neblina
e assim rebelado reafirma
que coração de poeta é mais forte
resiste ao desalento e a morte,
para que com raiva eu escreva um poema
de amor ao muito que me restou.