NALDOVELHO

ESPAÇO DEDICADO A POESIA

terça-feira, dezembro 12, 2006

MENSAGEIRO DA AGONIA



NALDOVELHO

Coisa mais estranha a lua avermelhada,
tiros de escopeta sacodem a madrugada,
vidraça estilhaçada, Linha Amarela,
cidade sitiada, tranco as janelas.

Coisa mais sem graça, ruas tão desertas.
Já nem sei dar conta, janeiro ou fevereiro,
e eu nem sei seu nome, mas sei seu codinome:
se encarar o bicho pega, se medrar o bicho come.

Coisa esquisita este Rio de Janeiro,
meu santo padroeiro, tá refém, tá prisioneiro.

Também tem Linha Vermelha na cidade dos aflitos,
motorista encurralado lá meio do conflito,
facções de sangue quente em comandos divergentes,
tem fuzil AR-15, tão armados até os dentes.

De manhã leio as notícias na cidade sitiada,
tiro dado a queima roupa, assassinaram a madrugada.
Quem matou "é de menor", não conhece poesia;
bicho solto, bicho louco, mensageiro da agonia.

Coisa esquisita este Rio de Janeiro,
meu santo padroeiro, tá refém, tá prisioneiro.