NALDOVELHO

ESPAÇO DEDICADO A POESIA

segunda-feira, dezembro 25, 2006

É HORA DE ENTERRAR NOSSOS MORTOS



NALDOVELHO

Melhor tirar os esqueletos do armário.
Hora de enterrar nossos mortos,
ninguém mais agüenta ouvi-los gemendo,
às vezes na sala, quase sempre no quarto.

Melhor dizer para aquele anjo esquisito
que vive de reinventar o pecado:
que somos filhos de um tempo
onde a inquietude é a razão de nossas loucuras.

Melhor desfazer a trama,
libertar a atriz, o músico, o poeta,
rasgar o texto e dar um basta aos melodramas.
Na maioria das vezes, o que vale vem de improviso.

Melhor desvendar os mistérios,
revelar o curso das lágrimas
e permitir que a vida se transforme
num grandioso e verdadeiro poema.

Melhor assumir que mentimos,
que vivemos de construir personagens,
que erramos ao esconder das pessoas
a verdadeira essência do nosso ser.

Melhor parar de contar com Deus,
de tentar suborná-Lo a cada passo,
com promessas, penitências, novenas;
melhor que façamos a nossa parte.

Melhor escancarar portas e janelas,
exorcizar o demônio em nós,
deixar que olhem dentro dos nossos olhos,
ainda que isto nos doa demais.

Melhor comer poeira de estrada,
mergulhar num oceano de possibilidades,
e ainda que naufraguemos e soçobrem cacos,
há como remendar-nos outra vez.

Melhor acreditar na eternidade,
e que somos infinitas pessoas,
e ainda que sejamos pequenos, em detalhe,
nenhum de nós tem nada que seja só seu.