NALDOVELHO

ESPAÇO DEDICADO A POESIA

quarta-feira, janeiro 17, 2007

CONTRA A MARÉ



NALDOVELHO

Solitária nascente, gotejando sementes,
construir o presente no ventre de uma mulher.
Filetes de pedra, mais parecem espinhos,
cristalinas escarpas, fronteiras em desalinho.
Eu vi um menino a escalar a montanha
e a escrever com as mãos o seu próprio destino,
braço de um rio a sagrar o seu curso,
navegar, navegar, descobrir o seu ninho,
aportar, lançar amarras, alterar meu destino,
fazer do amor que floresce a razão dos meus sonhos.
Poderosa enchente que a tudo renova...
Adernar, naufragar, me afogar em delírio,
descobrir que a dor impulsiona o ser.
Desgovernado que seja, alterar o meu curso,
ver o mar raivoso ser a foz de um rio,
e uma velha embarcação resistindo ao açoite.
Prosseguir mar afora, peregrino e vadio,
pela força dos ventos, da saudade e do cansaço.
Eu vi um menino, sobrevivente dos tempos,
a escrever com as mãos o seu próprio destino,
a procura de um norte, a desafiar a própria morte;
suas mãos calejadas por lutar contra a maré.