SOBRE O CADAVER DE UM POEMA

NALDOVELHO
Velhas carpideiras choram sobre o cadáver de um poema, pássaros em debandada, chuva de vento, constrangimento, sudoeste que se aproxima e varre meus pensamentos e as pessoas pelas ruas passam, e não param.
Na torre da igreja: sinos, esperança, missa das seis. Na cidade chove um absurdo de lamentos. Mais um cadáver! Desta feita um soneto e um beija-flor se debate inutilmente, paixão construída em versos que o tempo desmaterializou.
Luz da lua insiste em se mostrar nublada, portas e janelas permanecem fechadas, e aqui em meu quarto: tuas cartas, um maço de cigarros, um livro de contos, e as teclas do piano entristecidas: harmonia em tom menor, melodia dissonante, arrastada, quase fúnebre.
Lá fora, carpideiras continuam seu trabalho, versos espalhados, incoerentes, embaralhados, rimas pobres, mutiladas, dilaceradas. Ao longe: ritmos tribais, linguagem estranha, coisa panfletária, mensagem do avesso.
Aqui dentro: o poeta agoniza e chora: solidão, nostalgia, desentranhamento. Morre o homem, sobrevive a poesia. Na pedra fria seu epitáfio, ainda assim, as pessoas passam e poucos param! Aqui jaz minha reflexão.
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